" O ex- presidente construiu um protagonismo espontâneo, assumindo novamente o posto de líder da oposição "
A fala do ex-presidente LULA,no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, observou cuidados de conteúdo próprios de um pronunciamento de estadista. Foi clara e incisiva em questões de princípio sem resvalar para o radicalismo estéril, desagregador. Foi também precisa na demarcação do seu espaço como liderar natural da oposição.
Trouxe luz, racionalidade e bom senso ao debate sobre a pandemia, opondo-se,assim, de modo incontrastável às parlapatices de Jair Bolsonaro.
No curso da apresentação, o ex-presidente construiu um protagonismo espontâneo, assumindo novamente o posto de líder da oposição. O fez em questões concretas, facilmente decodificadas por todos os brasileiros, apontando, por exemplo, os erros imperdoáveis de Bolsonaro na pandemia.
Usou as armas da ciência - defesa da vacina , do uso de máscara e do distanciamento social - para se opor naturalmente ao negacionismo.Por contraste, mostrou-se o anti -Bolsonaro.
Exatamente quando o país atinge o trágico recorde de 2 mil mortes por dia, Lula se fez novamente líder diante de todos os brasileiros,apontando saídas fundadas na experiência É na razão. Neste momento, semeou esperança, trouxe a possibilidade de um outro país, de um outro caminho - menos atribulado, menos obtuso, menos conflituoso; mais feliz.
Tragado pela pandemia e pelo desatino governamental, o Brasil embruteceu em meio ao redemoinho de crises insanas infladas em boa medida pelo espírito malsão de Jair Bolsonaro. Nos últimos anos , produziram-se enormes carências, sobretudo, de esperança. Com maestria, Lula se mostrou capaz de refazer os destinos da Nação por outros caminhos, com respeito aos contrários e civilidade. Não é pouco.
Para além da litigância processual, a decisão do STF de anular as condenações maquinadas por Sérgio Moro fez Lula readquirir serenidade. Diferentemente de outros momentos, o ex-presidente não foi instado a se defender, tampouco foi confrontado com provocações absurdas, urdida criminosamente para desestabiliza-lo. O Supremo Tribunal Federal ocupou-se da tarefa de redimi-lo - ainda que tardiamente. Não mais no banco dos réus, Lula era em São Bernardo apenas o ex- presidente que fez o Brasil experimentar a sua maior bonança. Ou talvez, o provável candidato a fazê-lo repetir o feito. Não havia revolta tampouco mágoa a enxotar o raciocínio. As idéias estavam claras, brotavam na medida e no tom correto.
Semblante sereno, não apresentou arroubos à esquerda . Coerente, reafirmou sua visão de desenvolvimento a partir de ações do Estado, mas com ponderação e exemplos práticos. Não incorporou um radicalismo de sinais ideológicos trocados exclusivamente. Ao negacionismo, trouxe ciência; a retórica raivosa, opôs moderação.
Quando enveredou pela análise política talvez tenha traído o projeto de se candidatar novamente.Houve preocupação cirúrgica com menções e lembranças que remetem a moderação. Exibiu espírito de conciliação e desejo de compor alianças ao centro. Não por acaso, fez questão de elogiar o seu ex -vice, o empresário José Alencar, resumindo a parceria como uma aliança entre o capital e o trabalho. Defendeu ainda uma frente ampla para derrotar o atual governo, mas " não uma frente ampla só de esquerda". Foram mensagens com visível cálculo político.
De tudo o que disse, o mais importante talvez tenha ficado nas entrelinhas. Por entre palavras e frases, Lula fez novamente inspirar esperança. Mostrou que é, de fato, a liderança mais preparada para garantir a retomada do desenvolvimento e do bem estar social - destroçados pela associação criminosa da direita insana com o liberalismo cínico dos amantes do mercado.
Não vamos afrouxar o garrão, a luta continua.
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