Fora da Globonews desde novembro do ano passado, depois de questionar, em seu site particular a tendenciosa cobertura política anti-Dilma da imprensa brasileira, o ex-âncora Sidney Rezende foi vítima do flaflu que tomou conta da política e da imprensa mormente desde o ano passado; em entrevista ao 247, ele falou sobre Eduardo Cunha ter virado réu: "Sua permanência na presidência da Câmara é uma provocação a toda a nação"; sobre as marchas pró e contra o impeachment: "Eu quero uma mídia que seja isenta, que faça uma cobertura de fato, real"; sobre os vazamentos da Lava Jato: "O que é grave é as pessoas exporem o país a esse risco de desarranjo institucional porque o que acontece? Você gera o desemprego, a falta de investimento"
4 DE MARÇO DE 2016 ÀS 18:59
Por Alex Solnik, para o 247 - Fora da GloboNews desde o dia 13 de novembro de 2015, depois de questionar, em seu site particular, a tendenciosa cobertura política anti-Dilma da imprensa brasileira, o ex-âncora Sidney Rezende foi vítima do flaflu que tomou conta da política e da imprensa mormente desde o ano passado.
Nessa entrevista exclusiva ao 247, o jornalista falou sobre Eduardo Cunha ter virado réu: "A sua permanência na presidência da Câmara dos Deputados é uma provocação a toda a nação". Sobre as marchas pró e contra o impeachment: "Eu quero uma mídia que seja isenta, que faça uma cobertura de fato, real".
Sobre os vazamentos da Lava Jato: "Então, o que é grave, eu acho é as pessoas exporem o país a esse risco de desarranjo institucional porque o que acontece? Você gera o desemprego, a falta de investimento"... E sobre o impeachment: "Se nós formos por esse caminho nós vamos para uns dois anos de uma crise absolutamente grave. Alguém acha que você vai tirar a Dilma e botar Jesus Cristo e no dia seguinte já vai ter tudo funcionando muito bem?"
Ou seja, disse tudo o que jamais diria na GloboNews. E um pouco mais. No final ele fez o elogio do jornalismo independente: "você conversou comigo aqui, perguntou o que quis. Não tem preço isso. Se você tivesse a carteirinha funcional de algum lugar talvez alguém te dissesse "ah, Alex, isso não pode... a pauta é essa... esse entrevistado não...".
O que você achou do julgamento do Cunha no STF? Assistiu?
Não, eu não assisti, só vi a repercussão. Eu acho o seguinte. Primeiro: as instituições estarem funcionando eu acho muito importante isso. Não é porque a decisão pode ser a favor ou contra. Agora, é evidente que coloca o país num outro patamar... porque não se teve um presidente da Câmara, na história, com a sua situação exposta a esse nível. E eu acho que demorou muito. Agora, eu queria fazer uma observação, veja se esse assunto te interessa. Nós estamos vivendo aqui no Brasil um momento em que você fala assim "o governo de esquerda"...ou "as ideias de esquerda"... "esse está mais à esquerda"... "aquele está mais à direita"...Você sabe o que sinceramente eu acho que nesse momento o Brasil mais precisaria até, eu estou disposto a falar isso e levar porrada e tudo o mais. É o seguinte: nós precisamos de um centro forte! Um centro! O que que é um centro? Qual é a agenda mínima brasileira para que esse país fique de pé e funcionando muito bem? A agenda mínima. Eu posso dizer cinco pontos... você pode dizer cinco pontos...ou quatro pontos... ou três pontos... agora, a sociedade brasileira não sabe exatamente... porque agenda não é dizer que é saúde, educação, transporte...isso não é agenda, é tópico. Educação. Qual é a agenda da educação? Eu acho que é ensino integral, de qualidade, reciclagem de professores, com os programas que aí estão. Eu não estou propondo trocar tudo, eu estou propondo fazer o estado funcionar bem. Então, nós temos que dividir o que são ações de estado e ações de governo. Por que o centro é importante? Porque você pode dizer "eu sou um cara mais à esquerda, eu penso isso e isso da sociedade"...mas não é porque eu sou de esquerda e contrário ao cara que é de direita que eu acho que hospital tem que ser uma bagunça...que a corrupção possa ser descontrolada...ou que está certa a forma como sou atendido quando vou à delegacia...Então, nessa hora é importante parar de incentivar esse fla-flu... é legítimo, é normal, eu quero mais que as pessoas vão pra rua protestar, quem é a favor, quem é contra. Agora, eu quero uma mídia que seja isenta, que faça uma cobertura de fato, real, no sentido de permitir que sejam ouvidas as várias vozes relevantes da sociedade, independentemente de suas ideologias. Os empresários se posicionarem. Os empresários, eu vejo muitos empresários sérios no país. Tem gente séria.
Como tem político sério também. E a Lava Jato, que eu acho que é a Nova República do Galeão, como disse Jânio de Freitas...
E, um parênteses: o Jânio é um gigante nesse momento, é um farol.
Exato. A Lava Jato está demonizando os políticos, só que sem políticos não há democracia.
Com certeza.
Não pode a Lava Jato pautar o país. E passar a ideia de que a solução para acabar com a corrupção é colocar corruptos na cadeia. A primeira leitura do brasileiro deveria ser a constituição. Quando eu vejo frases soltas de uma delação premiada irem para as manchetes isso me lembra imprensa marrom. O que você pensa disso?
Eu penso o seguinte. Eu acho, para nossa tristeza aqui que há uma coisa mais grave até do que esse cenário que você aponta. Me chama menos atenção existirem ações no Ministério Público, na Justiça ou mesmo naquela instância onde está o Moro, me chama menos atenção existirem esses pontos fora da curva, outros mais ou menos, me chama menos atenção isso do que a fragilidade da sociedade em não ter mecanismos dentro dela para trazer o Brasil para a sensatez. Trazer um pouco para a realidade. O que é que acontece? Quando você tem um desarranjo institucional, por exemplo, uma acusação infundada ou incompleta, ou parcial, vamos supor que eu tenho um inquérito em andamento e começo a divulgá-lo, o que se chama divulgação seletiva, se eu começo a dizer olha estou investigando o Alex Solnik já é uma informação e tanto! Pô, está investigando... mas investigando o que? A hipótese, a suposição que ele tenha praticado incorreções nessa ou naquela área. Eu vou ficar de orelha em pé. Aí, depois de duas ou três investigações dizem olha não é nada sério, é um engano. Essa informação já não chega do mesmo modo. A sociedade que ouviu que o Alex estava sendo investigado não foi informada da mesma forma. Se você for inocentado vão dizer: "Foi, sim, mas deve ter alguma coisa. Só que não descobriram". Então, o que é grave, eu acho é as pessoas exporem o país a esse risco de desarranjo institucional porque o que acontece? Você gera o desemprego, a falta de investimento.... Eu sou da tese, Alex, que o dinheiro existe, mas ele está, como eu chamo, "entesourado". "Você está dizendo, então, que a crise é menos grave do que ela é"? "Sim". Eu acho que é menos grave. Primeiro, a política, que pode ser resolvida e por n razões nós fomos deixando ela chegar nessa situação de completa bagunça, vamos dizer assim. Nós temos que dividir as coisas que nós pensamos, as nossas convicções das nossas ações e gestão do dia a dia. Não posso colocar um cidadão, hoje, que tem um emprego, por exemplo e perde o seu trabalho e não tem pra onde ir, sem ter meios e mecanismos de dar o pão para a sua família. O que vai acontecer, inevitavelmente é o crescimento da tensão social, o aumento do desemprego, geração de insatisfação, crescimento de organizações milicianas e criminosas que podem ser atraídas pelo tráfico de drogas ou o que seja, acontece a dúvida, a desesperança e a convicção de que o país não tem jeito. Se o cara lá de cima diz que quer ir pra Miami o cara lá embaixo diz putz se o cara lá de cima quer ir pra Miami eu também quero ir pra Miami, isso aqui está uma zona, uma bagunça, não tem emprego, não tem nada, na primeira oportunidade eu largo o Brasil. Quando não é assim, isso é um conto de fadas, tem coisas maravilhosas em Miami e tem desgraças que o cidadão vai enfrentar como todo imigrante recém-chegado. O que me chama a atenção são pessoas como nós que leem três, quatro jornais por dia e que integramos a elite pensante do Brasil, cada um à sua maneira, com mais ou menos dinheiro, não importa, com mais ou menos influência social, me chama muita atenção os brasileiros sensatos silenciarem, e , o que é pior, às vezes acharem que a saída mais fácil é a que está próxima à mão. Falemos do impeachment da presidente Dilma. Não importa se eu, Sidney Rezende, acho o governo Dilma excelente ou péssimo, não é essa a questão. Se nós formos por esse caminho nós vamos para uns dois anos de uma crise absolutamente grave. Porque você tira o presidente, tem que ver quem vai substituir, tem que ver a composição do governo, tem que ver as ações de governo, tem que ver o que se vai fazer com o ex-presidente, como é que vai ser a próxima eleição, tem que ver o calendário eleitoral, todo mundo que já está de freio puxado no mercado produtivo aí é que vai parar o carro mesmo. Como você vai investir ou alguém acha que você vai tirar a Dilma e botar Jesus Cristo e no dia seguinte já vai ter tudo funcionando muito bem? Sabemos que não é assim. Então, as pessoas esclarecidas, que leem a constituição, como eu li a constituição, como acredito que você tenha lido, pessoas que acompanham a vida política brasileira, nós, cidadãos, que queremos um país melhor, estamos aqui nessa luta por um país decente, justo, melhor, nós todos sabemos que as coisas não se dão dessa forma. E é incrível que – por isso que eu digo que é mais grave que a operação específica do juiz Moro, se ela foi correta ou não foi, mais do que isso é nós permitirmos que essas coisas sejam propagadas e são mais superficiais, como se elas fossem a solução dos problemas mais profundos. Então, não acredito. Então, tem que ter um mínimo de respeito pela população que está insegura. Não é só o desemprego. Ela está insegura assim. O pequeno empresário faz o que? Faz um empréstimo. Vai empreender o que, como, de que forma e onde? Todo mundo fala o que? Vai piorar... tá ruim... não sei que... por isso que eu fiz aquele artigo dizendo olha, gente tem notícias boas no Brasil também. Quer ver uma notícia boa? Todo mundo costuma dizer que nós somos humilhados lá fora. Acabei de chegar do exterior. Não é a imagem que se tem desse país. As pessoas lá foram dizem assim, vem cá, explica o que está acontecendo, porque vocês, brasileiros falam tão mal do Brasil e não é essa a imagem que temos do Brasil. Então, a mídia tem uma co-responsabilidade...
A mídia ajuda a criar esse clima que você descreveu, que está associado à Lava Jato, que está há um ano fermentando esse clima. Se bem que esse fenômeno da direita vindo à luz é um fenômeno que vem de uns quatro anos para cá.
Se essas forças mais conservadoras se organizam e jogam o jogo me parece menos grave isso do que dizer assim "para que nossas ideias prevaleçam – pode ser a esquerda também – para que nossas ideias prevaleçam, pare o país"! O país não funciona mais! Temos que respeitar as pessoas que até dizem assim mesmo que seja uma posição política, alguém pode dizer, mas eu não gosto de política, eu não quero acompanhar a política partidária...o cidadão tem o direito, como tem direito à crença e tem direito de ser ateu ou acreditar na religião A, B ou C. Tudo certo. O que eu não concordo é parar o país, atrasar o nosso desenvolvimento, comprometer as nossas exportações, a geração de emprego interno, deixar se deteriorar os serviços em geral, não são só os públicos, não, hoje a iniciativa privada está nessa também, isso é um erro, é um erro muito grande, porque o que é que acontece? É um tsunami. Primeiro o tsunami pega o pobre, mas ele vem vindo e se você não tomar providências ele vai levando. Vai pegar o cara lá no topo da montanha. Mas ele vai varrendo a cidade inteira. Sabe o que é isso que nós criamos pro Brasil? Eu faço, na verdade, quase uma convocação, um chamamento às pessoas sensatas, de bem, independentemente de suas ideologias, focarem o Brasil primeiro, seus serviços, seus valores, fazer funcionar o país, e depois, meu amigo, a gente vai quebrar o pau, eu penso de uma maneira, você pensa de outra. Agora, usar todos os mecanismos e as instituições que funcionam nesse país com o objetivo de paralisar por uma mera meta de poder não me parece que isso aí não é o desejo do povo brasileiro, isso não vai dar certo. Isso vai dar problemas. Isso vai ter consequências muito graves se se pretender ir por esse caminho que aparentemente estamos indo. Não me parece bem. O certo é que eu não comungo desse tipo de caminhada. Eu defendo o direito de as pessoas pensarem diferentemente de mim, mas não aceito que se pare o Brasil. Acho inaceitável. Inadmissível.
E a outra coisa inaceitável é discutir a democracia. Não podemos abrir mão dela. Ela é diretamente relacionada à prosperidade de um país. O maior exemplo é Estados Unidos. Onde o cidadão já nasce sabendo que democracia não se discute. Há uma estabilidade política que garante a estabilidade econômica. Apesar das guerras e tudo o mais. E a gente não consegue ter estabilidade política, desde 1889 são ciclos ora de democracia, ora de ditadura.
Só que tem uma importantíssima diferença. Nós estamos num patamar de dar um salto muito real. Não somos mais o país agrário que éramos, com 70% da população nas áreas rurais. Você tem toda razão. Essa gangorra de instabilidade, de dificuldade de se aprofundar a democracia permanece hoje, é verdade. Mas o país não é mais o mesmo. Nós temos uma maioria silenciosa muito grande no Brasil. Muita gente que está à parte. E essas pessoas não se posicionaram.
Essa nossa conversa vai atingir milhares de pessoas. Mas os milhões de pessoas estão preocupados com dois assuntos. Os homens, futebol. As mulheres, a novela.
E eu acho que a sobrevivência também.
O assunto principal, é claro, é "o que vamos comer hoje".
Outra coisa: aquela história da ascensão da classe C é um dado real. O brasileiro – eu ando o Brasil todo, cara – o brasileiro ele está hoje com uma predisposição muito grande de crescer, de evoluir, de desenvolver, fazer cursos, estudar, então isso tem que ser incentivado, se você para o país você interrompe essa possibilidade. Aí é só daqui a vinte, trinta anos. É isso que me angustia. Por isso é que o centro é importante. O que que é o centro? Trazer um cara... trazer pessoas que pensam... Quando o Claudio Lembo, por exemplo, nós sabemos o pensamento dele, ele se posiciona... como Jânio de Freitas e outros tantos... desabridos, recebendo ameaças... são contribuições muito importantes. Eu quero aqueles caras mais equilibrados, sensatos, de centro. A Dilma errou nisso aqui, mas acertou naquilo lá. Aqui tá funcionando; aqui não tá. Porque essa história de que nada está funcionando não é verdade. E vou falar outra coisa polêmica aí que essa vai gerar discussão, que é o seguinte. O principal lugar do Brasil onde temos que aprofundar esse debate sobre a democracia e como aceitar o outro é em São Paulo. São Paulo está vivendo uma resistência que não é sadia. Não é sadia. Não é assim no resto do Brasil, Alex. Mesmo o sujeito mais esclarecido em São Paulo ele está com uma raiva... ele está com um sentimento que não é construtivo, cara. Quando eu escrevo alguma coisa, às vezes o cara não leu o que eu escrevi, mas se arvora no direito de dizer que eu não posso dizer isso. Eu escrevo o que eu quiser. Você pode concordar ou não. Se você faz uma crítica à esquerda, não agrada à esquerda... se faz uma crítica à direita, não agrada à direita. Não. Tem que incentivar uma calma no país. Não uma calma tipo não faça nada.
Talvez um pacto. Tem que haver uma trégua.
É isso aí.
Porque nós estamos praticamente às portas de uma guerra civil.
É verdade. Essa coisa da trégua eu acho muito importante.
É uma trégua. Deixa a presidente governar, primeira coisa. Retira esse impeachment. Todo mundo já viu que é uma grande bobagem, não tem motivo, não tem voto. Então para que continuar com isso? Você vê algum sentido em continuar com o impeachment?
Não, eu não vejo. Eu não acredito que ocorrerá impeachment, eu não vejo vantagem em atrasar o país com esse tipo de discussão, eu preferia uma oposição forte, ferrenha, no sentido de fazer funcionar os programas anunciados, ou propor alternativas, uma pressão propositiva, forte. Forte como? No debate, utilizando os espaços disponíveis em todos os meios, sem dúvida alguma. Eu não vejo propósito no impeachment, acho que não acontecerá e acho mais: se eu estiver errado e ele acontecer nós pagaremos um preço muito caro que atrasará bastante o fortalecimento das nossas instituições. Não será uma contribuição para a nossa democracia como os até de boa fé acreditam. Eu acho o contrário: embaralharemos as cartas de uma maneira preocupante e perigosa. Não me parece uma boa atitude. Eu converso com muita gente das Forças Armadas e vejo muito mais equilíbrio e tranquilidade junto aos militares do que entre muitos civis que acham que quanto pior melhor, vamos rachar, vamos quebrar. Essa calma e essa tranquilidade dentro das Forças Armadas é muito importante e dentro da sociedade civil também - os jornalistas mais sensatos, mais equilibrados, deixar de ter uma postura mais partidária. Acima de qualquer coisa eu não quero que essa entrevista seja a exposição da minha ideologia ou convicções partidárias. Não, nosso papo aqui é sobre a democracia, sobre as instituições democráticas, a liberdade de expressão, o equilíbrio das forças vivas da sociedade e finalmente fazer o país andar no que ele precisa andar. A gente tem que ter os serviços públicos e privados funcionando com tranquilidade para o cara poder investir. Essa descrença, essa desesperança não vai embora se você troca o governo, não. O próximo governante eleito legitimamente, vamos dizer que ele ganhe até com uma larga vantagem ele trará alegria para o eleitor que o escolheu, mas ele não vai solucionar os problemas da noite pro dia, não! Não vai solucionar! Nós precisamos preparar o país também pra isso. Não gosto desse mundinho que a gente fantasia para um lado ou para outro. Eu prefiro trabalhar com a realidade. O que que é a realidade? Erramos? Erramos! Acertamos? Acertamos! A realidade é muito melhor, cara. Porque quando você adultera a realidade, que é o que estamos vivendo agora, vivemos uma esquizofrenia no Brasil. Então, eu faço um chamamento às pessoas sensatas e equilibradas de todas as áreas que preguem isso, que parem com isso, que mandem parar esse tipo de coisa junto ao seu círculo de influência porque é melhor para o país. Senão a gente vai para um negócio complicado.
O que você acha de termos um réu na presidência da Câmara dos Deputados?
Eu acho que sempre foi da tradição brasileira, é exigido que o camarada saia e que responda, e se ele for inocentado pode até retornar. Sempre foi assim. Tivemos isso com a crise Hargreaves, na época do Itamar... tivemos isso com o Figueiredo. Juscelino mesmo disse: eu não tenho compromisso com o erro. Eu convido uma pessoa para trabalhar no governo. Se não funciona, eu tiro. Quer dizer, é da tradição brasileira a não-permanência. Essa permanência do deputado Eduardo é na verdade uma provocação à nação. Ela cria uma instabilidade. Ela não é uma expressão democrática, porque já se tem mais do que evidências, se tem provas. A decisão do STF é mais uma ação legítima de uma instituição brasileira mostrando que a coisa não pode ficar como está.
E ele nem tem o in dubio pro reu. O resultado foi unânime contra ele.
Me interessa o seguinte: qual é a decisão final do Supremo? Você não pode achar normal ter na presidência da Câmara alguém com este grau de acusação e levantamento de provas. O correto era ele próprio, de forma digna, entregar o cargo e sair. Não sendo possível, então que se acelere o mais rapidamente possível essa tomada de decisão porque ela é acintosa, porque não é assim com os pequenos crimes. Então o sujeito é preso porque roubou um pão vai pra delegacia antes de ser julgado e este caso a essa ordem, documentação tão farta, não me parece que seja um bom exemplo para a nação. Estamos falando de uma função fundamental e estratégica, que cria leis para todos os demais cidadãos.
Você acha que ele poderá renunciar?
Eu acho que tem essa possibilidade. Não parece combinar com o perfil dele, mas não me parece uma hipótese a descartar. Sem pressão eu acho mais difícil ele renunciar, mas pressionado pelas forças vivas da sociedade que não veem nele uma pessoa útil, se retirarem esse tipo de apoio a renúncia pode ser viável, sim.
Mas o cargo é o escudo dele. E ele é um cara frio. É o tipo do cara que você cospe nele e ele vai em frente, impassível.
Tem que esperar. Eu gostaria que fosse mais acelerado esse processo. Demorou muito. O futuro dele já deveria ter sido definido há mais tempo.
Você disse outro dia que a Globo não é a dona do Brasil. Eu só não concordo com o tempo do verbo. Ela não deveria ser a dona do Brasil. Mas é.
Nós estamos aí para isso, para exercer a democracia, para impedir que o país tenha esse tipo de comportamento, estamos aí para fazer um trabalho competente, plural, eu sou um cara defensor do pluralismo, das coisas diferentes, que todos possam se expressar.
Quem tem o futebol, o carnaval e as eleições é o dono do Brasil.
Não vamos esmorecer, não.
Quando volta à TV?
Eu tô fora desde 13 de novembro, nem tenho mais contrato com a Globo, nada disso. Que que acontece? A ideia é ter a possibilidade de retornar, sim. Agora, não depende de mim essa decisão tomada em televisão. No caso de televisão é sempre mais complicado. Mas eu espero volatr, sim. Assim como você, que escreve para outros veículos, e também produz coisas próprias, o ideal, eu acho é isso: que a gente possa produzir coisas para a internet, até pra televisão e que a gente não necessariamente tenha uma relação de funcionário, para você poder entregar o teu trabalho e isso é melhor, porque veja: você conversou comigo aqui, perguntou o que quis. Não tem preço isso. Se você tivesse a carteirinha funcional de algum lugar talvez alguém te dissesse "ah, Alex, isso não pode...a pauta é essa... esse entrevistado não"... Então, o ideal é um lugar assim. Até o dia 31 devo ter notícias.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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