Eric Nepomuceno é jornalista e escritor.
13/07/21
Desde a primeira vez que fui a Cuba, no distante final de Julho de 1978, estive na Ilha umas trinta vezes, às vezes por poucos dias, outras por semanas. Além de amigas e amigos, ganhei irmãos.
E sempre, desde aquela estreia em terras cubanas, tive pontos de discordância, e em algumas ocasiões fiz críticas ao que acontecia Jamais deixei de expor o que pensava, mas numa única situação : estando em Cuba.
Das muitas coisas que aprendi com Eduardo Galeano e me servem de guia, trago aqui a definição feita por Carlos Fonseca Amador, um dos fundadores da falecida Frente Sandinista na Nicarágua : o verdadeiro amigo é aquele que critica na frente e elogia pelas costas.
Conheci de perto períodos de bonança na Ilha, e muitos períodos de vicissitude. E jamais, em tempo algum, deixei de ver nos olhos dos cubanos, conhecidos ou anônimos, algo que tanta falta faz na nossa América Latina : uma mistura equilibrada de dignidade e orgulho.
É, de longe, o povo mais generoso e solidário entre os tantos que conheci e frequentei e frequento.
Essa generosidade, essa solidariedade, muitas vezes ocorreram em países com claras diferenças e distância com Cuba que enfrentavam períodos dificieis. Basta recordar a ação de médicos cubanos espalhados mundo afora, e não apenas em nações amigas.
Presenciei em várias ocasiões protestos de artistas jovens, e fiz parte de grupos de estrangeiros que mantém com Cuba a mesma relação que eu e que buscam autoridades para levar sua preocupação ou, em algumas ocasiões, reclamação.
Foram duas as vezes em que, junto a outros escritores e artistas estrangeiros , fui levado diante do próprio Fidel Castro, que ouviu com serenidade nossas colocações e determinou providências.
Portanto, entendo o que está acontecendo. E não esqueço em nenhum momento - algo, aliás, que ninguém de índole justa e com um mínimo de dignidade deveria esquecer - que o principal foco dos problemas enfrentados pelo povo cubano é, sim, o governo.
Mas não o de Cuba: o dos Estados Unidos da América.
Uma das mais cruéis perversidades na história contemporânea é o bloqueio imposto por Washington à Ilha. E só mesmo um povo íntegro e digno conseguiria sobreviver a essa maldade.
Washington bloqueio de alimentos e remédios,impede o comércio, pune companhias navegadoras que aportam em Cuba.
Bloqueia insumos e equipamentos médicos, peças de reposição mecânica e de energia elétrica, e restrições absurdas são impostas às exportações cubanas.
É infinita a lista de prejuízos econômicos e sociais provocados pelos Estados Unidos ,e isso há mais de sessenta anos.
Barack Obama prometeu reatar as relações com a Ilha e suspender o bloqueio. Balela. Não fez nem uma coisa nem outra. Donald Trump não fez mais que apertar com rigor as medidas contra Cuba. E Joe Biden vai pelo mesmo caminho.
Sim, sim os cubanos protestam contra falta de alimentos,de remédios. E a ignorância dos afoitos lança críticas à ditadura.
Estranha ditadura : o presidente Miguel Diaz - Canel foi para a rua conversar com manifestantes.
As de agora foram as manifestações mais amplas dos últimos 27 anos. E de novo Washington quer aproveitar a tensa inquietação vivida na Ilha para apertar ainda mais o torniquete.
Só vai conseguir causar ainda mais dano ao país. É uma perversão sem limites e sem fim.
E de novo será em vão : Cuba está viva e seguirá viva. É uma sobrevivência heróica diante de uma política perversa e covarde alimentada e envie dada por Washington.
Esse artigo não representa a opinião do BRASIL 247 e é de responsabilidade do colunista.
Não vamos afrouxar o garrão, a luta continua.
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