Jeferson Milla, integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador executivo do 5¤ Fórum Social Mundial
"A América Latina está no Centro da disputa geopolítica que os EUA travam com Rússia e, principalmente , com a China, por isso a intensificação do ativismo imperial para derrubar governos e mudar regimes", escreve Jeferson Miola
12 de Julho de 2021
A influência crescente da China na América Latina em vários âmbitos - comercial, financeiro, político, econômico, tecnológico e de investimentos - desatou reações vigorosas do establishment estadunidense com o objetivo de recompor sua debilitada hegemonia hemisférica. Trata- se da conhecida Doutrina Monroe, do ano de 1823 do século 19: " A América para os Americanos".
Após as tentativas fracassadas de mudança de regime na Venezuela nos primeiros anos deste século 21, os EUA então multiplicaram o cardápio de novos mecanismos e dispositivos para interferir, desestabilizar e golpear governos progressistas, considerados hostis e desafiadores aos seus interesses históricos e estratégicos.
As clássicas quarteladas do século 20 deram lugar a golpismos de novo tipo. Manipulação de redes sociais, infiltração de mercenários, financiamentos de ONGS e oposições mercenários, retórica anticorrupção, sanções ilegais, guerra informacional e ajuda financeira a governos vassalos compõem o diversificado cardápio para a desestabilização de democracias e derrubada de governos constitucionais.
a corrupção de juízes, procuradores, policiais, parlamentares, mídia e " formadores de opinião" para perseguir e aniquilar inimigos( lawfare), além disso, foi largamente empregada em vários países da região para recobrir com "verniz institucional" processos de violação das democracias, Argentina, Brasil, Equafirr, Peru e Venezuela foram os alvos mais notórios desta estratégia jurídico - midiática -empresarial -militar e parlamentar.
Na Venezuela, contudo, a retórica da guerra fria, de invasão bélica e ameaça da guerra civil continua sendo reiteradamente repetida pelos EUA e governos vassalos na região, principalmente Colômbia e Brasil.
Mas, de modo geral, se observa que as estratagemas para a recolonizacão hemisférica passaram ser mais elaborados, como se observa no inventário parcial da atuação - por vezes nem tão oculta dos - EUA nos últimos anos:
- 2008: governo boliviano acusou os EUA de patrocinarem conflito separatista no departamento de Santa Cruz de La Sierra ( Meia Lua). Líderes da extrema direita boliviana reuniram-se diversas vezes na embaixada dos EUA para planejar o plano de secessão;
- 2009: golpe em Honduras com distribuição, prisão e exílio ilegal do presidente Manuel Zelaha;
- 2012: golpe no Paraguai, com impeachment sumário perpetrado em menos de 72 horas sem causa, sem processo e sem direito à defesa do presidente Fernando Lugo;
2012" criação da Aliança do Pacífico com governos vassalos para debilitar papel da UNASUL e CELAtC;
- 2013: espionagem da presidente Dilma e da Petrobrás que pode estar relacionada com os preparativos da Lava Jato;
- 2013: cursos dos Departamentos de Justiça e de Estado e agências dos EUA para procuradores, juízes, políticos, policiais federais e oficiais das Forças Armadas;
- 2013: "primavera brasileira" com as jornadas de Junho e processos de desestabilização;
- 2013 : avião presidencial de Evo Morales foi obrigado a fazer pouso de emergência em Viena depois dos EUA obrigarem países europeus a proibirem pouso técnico para reabastecimento em viagem de regresso de Eco da Rússia, colocando a vida do presidente em risco. Motivo: S uspeitavam que Evo trazia Edward Snowden para conceder-lhe exílio na Bolívia;
- 2013: diplomata tucano Eduardo Savoia, encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz arwuitetou e executou pessoalmente a fuga do senador oposicionista Roger Pinto, condenado criminalmente pela justiça da Bolívia [como prêmio, o diplomata tucano tornou-se chefe de gabinete de Aloysio Nunes no Itamaraty no governo golpista e ilegítimo de Temer ];
- 2015/2016: derrubada da presidente Dilma. Em 18 de Abril de 2016, dia seguinte à aprovação da fraude do impeachment na Câmara, o senador tucano Aloysio Nunes viajou a Washington para 3 dias de encontros com altas autoridades estadunidenses;
- 2017: eleição de Lenin Moreno para reverter a " revolução cidadã "no Equador;
- 2017: formação do Grupo de Lima com governos vassalos para avançar plano de atacar a Venezuela;
- 2018: governos vassalos dos EUA abandonam a UNASUL, organismo pelo qual os países da região equacionavam conflitos regionais pacificamente e sem interferência da OEA, organismo totalmente teleguiadk por Washington;
- 2018: esvaziamento da CELAC, organismo que congrega todos os países do hemisfério americano e que deixa de fora apenas EUA e Canadá [ espécie de OEA sem EUA e Canadá ];
- 2018: pressão dos EUA para FMI conceder empréstimo eleitoral de U$$ 57 bilhões ao governo Madri, da Argentina, para impedir a eleição do peronismo [ Alberto e Cristina ]ao governo;
- 2019: designação de Juan Guaido como " presidente autoproclamado" [sic] da Venezuela;
- 2019: simulacro de ajuda humanitária para invadir a Venezuela com apoio dos governos Bolsonaro e Ivan Duque ;
- 2019: Luís Almagro, da OEA, falsificou informes para anular eleição legítima de Evo Morales e justificar o golpe perpetrado pela extrema-direita boliviana com o apoio material, político e diplomático dos governos Macri/Argentina, e Bolsonaro / Brasil;
- 2020 : enfraquecimento do MERCOSUL por meio do acordo com a União Européia e tentativas de flexibilização da Tarifa Externa Comum do Bloco;
- 2020: agentes e apoiadores do governo brasileiro seguem caminho de Olavo de Carvalho e refugiam-se nos EUA- irmãos Weintraub, blogueiro Allan dos Santos, empresário cloroquiner Carlos Wizard, juiz-ladrão Sérgio Moro, etc;
- 2021: viagem da vice-presidente dos EUA à América Central para difundir o eixo de ação dos EUA de " combate à corrupção" para a região [sic];
- 2021: presidente venezuelano Nicolás Maduro denunciou que o comandante do Comando Sul dos Estados Unidos Cravo Faller e o diretor da CIA Willian Burns visitaram Colômbia e Brasil com objetivo de preparar plano para assassina-lo;
- 2021: diretor da CIA se reuniu no Brasil com o chefe da ABIN,generais do governo militar e com Bolsonaro.
No último 7 de Julho o presidente do Haiti Jovenel Mouse foi assassinado por mercenários de nacionalidade colombiana e estadunidrnse.
E, para completar este inventário provisório, destacam-se ainda os estranhos protestos "patrióticos" que espocaram em Cuba neste domingo,11 de Julho.
Neles, " patriotas" usavam máscaras faciais estampadas com a bandeira dos EUA, também agitadas nos protestos.
Os EUA agravaram o bloqueio ilegal a Cuba para asfixiar o país e causar o caos social que anima reações contrarrevolucionarias como as que estão em curso.
A América Latina está no centro da disputa geopolítica que os EUA travam com Rússia e, principalmente, com a China,por isso a intensificação do ativismo imperial para derrubar governos e mudar regimes.
A política externa do establishment estadunidense é bipartidaria.
Ou seja, é a política externa que tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano executam para a concretização do projeto de dominação imperial no mundo, como se observa neste resumido inventário que cobre episódios ocorridos na América Latina durante os governos Bush,Obama, Trump e Biden.
São gritantes as marcas das garras dos EUA sobre a América Latina.
Esse artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Não vamos afrouxar o garrão, a luta continua.
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