quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O QUE A MORDAÇA JORNALÍSTICA NÃO FAZ


A Vênus amordaçada

GUSTAVO  CONDE



"Renata Vasconcellos conseguiu se apequenar na frente de Bolsonaro (que já é um anão moral, intelectual e existencial). Um feito.
O que a mordaça jornalística não faz.
Porque, quando confrontada pelo candidato com relação à óbvia diferença de salário entre ela e Bonner, ela rebateu dizendo que o salário dela não era da esfera pública e não dizia respeito à discussão.
Ora, ora, ora. Claro que dizia respeito! E a própria pergunta que ela fez pressupunha que a discrepância entre salários de homens e mulheres é um dado econômico consolidado e alastrado por toda a sociedade.
Bolsonaro jogou baixo - porque igualmente carece de argumentos técnicos - mas foi pedagógico. Jogou no colo da jornalista toda a hipocrisia dela e da Globo.
Vasconcellos deu ibope de graça para Bolsonaro por pura incompetência, rabo preso e meridiana falta de clareza com relação a um problema que diz respeito a ela mesma.
É inacreditável, mas a indigência jornalística da Rede Globo é tal que até para Bolsonaro eles pagam mico.
O que é um dado chocante.
Ajudaram muito o ex-capitão deformado - sic. Mas, não de maneira deliberada. Eles ficaram burros mesmo.
Muita mordaça impõe a burrice de maneira irresistível. A peleguice, por sua vez, termina o serviço.
Bonner e Vasconcellos são dois capachos esfolados, monumentos finais e definitivos à subserviência em sua plenitude semântica.
Por isso, Bonner é ideal para o Grupo Globo. Ele não raciocina, não pensa, não articula, não formula.
E quando ele tenta dar a impressão de que formula alguma coisa, de que criou o conjunto editorial de questionamentos, fica artificial.
Num certo sentido, Vasconcelos é muito mais desembaraçada do que Bonner. O problema é que ela é submissa demais aos patrões e ao padrão Globo de falta de qualidade.
Bonner é um timbre hipnótico, atrativo. A voz anasalada e levemente metálica (lembra Sérgio Chapelin) figura no espectro 'lavagem-cerebral' da Vênus amordaçada.
Sua dicção, seu tom, sua entonação, seu ethos, configuram apenas uma voz vazia, pronta a ser preenchida pelos sentidos que a famiglia Marinho quiser e achar mais adequado, conforme a conveniência.
Ele encarna a voz neutra, do bom moço, bonito, asséptico, simpático, no limite entre o fleumático e o gozo sedutor dos cantores de tango com uma rosa vermelha na boca.
Bonner chega mesmo a lembrar o 'candidato da Manchúria', personagem curiosíssima do cinema americano, interpretada por Frank Sinatra nos anos 60 e por Liev Schreiber em 2004.
Trata-se do jovem filho de uma senadora, ex-combatente de uma guerra suja, que sofreu uma lavagem cerebral, química e psicológica, para protagonizar a política americana e servir aos interesses de indústria de armas.
Moro também lembra essa personagem, com seu vazio de personalidade e expressão de cera.
Pobre da mulher ser representada por Renata Vasconcellos. Pobre do jornalismo ser representado por William Bonner. Pobre do Brasil ter adiado tanto o acerto de contas com esse modo pequeno-burguês assassino de produzir informação.
Eles são infames demais."

Pensem  nisso  enquanto  eu  vos digo  até  amanhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ONTEM....

Ontem caminhando pelas ruas altas e baixas da cidade... Meus passos quando pisava o solo, parecia que em mim algo me levava para algum lugar...