Orloff era a vodka da propaganda e personagem falava para ele mesmo: eu sou você amanhã.
Sempre que cruzo pela gare, ou penso no comercial da vodka e na antiga Soteia. O futuro da estação Santa Maria é a Soteia. Está é a trágica e evidente constatação.
Ela foi definhando ao longo do tempo e, quando nos demos conta, não havia mais Soteia para ser salva.
Hoje, apenas escombros lá no Passo D' Areia. E a estação Santa Maria percorre o mesmo caminho. A Soteia é a estação amanhã.
Certa feita, lá em meados da década de 1990 do século passado, bati umas fotos. A plataforma estava coberta e intacta. Havia o sino e o relógio. Naquele dia, seria impensável imaginar o estágio de degradação vinte e poucos anos após.
Nesse quarto de século, passaram vários prefeitos dos mais variados matizes ideológicos e a estação Santa Maria estava lá, agonizando a espera de ajuda. O descaso foi completo. E a fatura chega em doses homeopáticas.
Santiago, Bagé, Cacequi, Dom Pedrito, Santo Ângelo e Restinga Seca são exemplos de estações preservadas.
Bem que a estação Santa Maria poderia ser uma delas amanhã. Mas a estação Santa Maria será a Soteia.
Esse é o roteiro de um filme de terror. A estação Santa Maria é o local que mais fotografei aqui na cidade. E o sentimento de tristeza dispara quando comparamos as fotografias com o passar dos anos.
Aí lembro de Heráclito e o rio. E devo dizer que não visitamos duas vezes a mesma estação Santa Maria. Nós não seremos mais os mesmos, mas muito mais evidente é que a estação também não será mais a mesma. A velha estação definha.
A cada visita um adeus. A cada visita temos menos estação. A cada visita nos aproximamos mais do fim da película.
A estação Santa Maria pede socorro.
Sou filho e neto de ferroviário. Então, sou saudosista dos áureos tempos da Viação Férrea. O trem da Fronteira, o Minuano e o Húngaro. Nos países desenvolvidos, o transporte ferroviário é uma certeza. E o Brasil precisa retomar este tipo de transporte público. Ainda desejo rever um trem de passageiros ligando Uruguaiana a Porto Alegre. E que Santa Maria volte a ser um entroncamento ferroviário.
A revitalizado da nossa gare é um sonho antigo. Mas a gare está, literalmente, sem rumo. E encaminha-se rumo às ruínas.
E, amanhã será, apenas, um lamento.
"ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA", ESCRITOR
Texto do dia 24/08/21, página 22, do jornal Diário/Santa Maria
Não vamos afrouxar o garrão, a luta continua.
Sim
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