sexta-feira, 7 de agosto de 2015

KAKAY E A LAVO - JATO

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Para advogado Kakay, delações da Lava-Jato deveriam ser anuladas

SÃO PAULO  -  O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, disse nesta quarta-feira que as delações premiadas da Lava-Jato deveriam ser anuladas porque são aplicadas de forma equivocada pelo juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, e pelos procuradores responsáveis pela operação que investiga o pagamento de propina e a formação de cartel em contratos da Petrobras.
Em palestra na Casa do Saber, na capital paulista, Kakay afirmou que os investigadores da Lava-Jato forçam a prisão de executivos e políticos por tempo indeterminado para garantir a delação premiada, o que caracteriza uma antecipação da pena antes mesmo de um julgamento. O instrumento, explicou o criminalista, deveria ser negociado a partir de um ato voluntário do eventual delator.
Segundo Kakay, alguns investigados na Lava-Jato estão ou ficaram presos por meses em condições sub-humanas e sem que os advogados de defesa tivessem acesso aos acordos da delação. “A prisão tira a capacidade de resistência das pessoas. Levam as pessoas a situações extremas e depois perguntam se elas querem dormir em casa, numa estratégia de garantir a colaboração premiada. Isso é tortura. Criamos um monstro”, disse.
O advogado, que não defende clientes que fazem acordo de delação premiada, ressaltou que não é contra o uso do instrumento, apenas defende sua aplicação correta. “A colaboração deve ser preservada e bem aplicada, mas sua aplicação (na Lava-Jato) está sendo uma ofensa à legislação e à dignidade das pessoas. As prisões são uma antecipação de pena”, argumentou. O criminalista sugeriu que a pressão da opinião pública impede uma análise racional.
“Acho que os tribunais superiores não terão coragem de fazer o enfrentamento técnico, mas se fossem fazer, essas delações seriam nulas, pois não cumprem a legislação”, observou. “Tivemos um procurador na Lava-Jato em que ao dar um parecer disse expressamente que as prisões são feitas mesmo para delatar. Isso é um escárnio, um tiro no instituto da delação”, acrescentou o criminalista, questionando até que ponto a delação serve como prova na medida em que o delator está preso e é induzido a colaborar com a Justiça.
Kakay declarou que o país vive um cenário de divisão e radicalização e que “a perseguição justiceira” de alguns “meninos que se julgam heróis nacionais” e “donos da verdade” ameaçam os princípios constitucionais. O combate à corrupção, afirmou o advogado, não é uma exclusividade de ninguém. “Todos nós (advogados), aliás, somos contra a corrupção”, frisou o criminalista, que na Lava-Jato defende a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), o ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB-MA) e os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR).
O criminalista não citou diretamente o ex-ministro José Dirceu, preso na segunda-feira, durante a 17ª da operação, mas criticou sua detenção, uma vez que o petista já cumpre pena domiciliar pela condenação no processo do mensalão. “Se a pessoa está presa, não há nada que justifique nova prisão. Até porque ela está sob custódia do Estado, a menos que o Estado reconheça que não tem controle sobre a ordem pública”.
Apesar das críticas, Kakay elogiou os procuradores do caso e Moro ao afirmar que são sérios e determinados. Descartou ainda qualquer comparação entre o juiz e Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), alçado à condição de herói nacional durante o julgamento do mensalão em 2012.  “Não façam essa comparação que é indigna para ele (Moro). É uma pessoa justiceira que caiu nas graças da população brasileira”.
Kakay, no entanto, lembrou que o fato de Moro atuar apenas em uma causa, a Lava-Jato, representa uma característica de tribunais de exceção e pode levar o Brasil a ter que se explicar em cortes internacionais.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.

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