sábado, 4 de julho de 2020

O FRIO DA ALMA, NO INVERNO GAÚCHO

A  noite veio  como um  bólido, o sol rápido deu  lugar  a uma  lua clara, linda  como  ela  é  sempre,  uma  noite  aluada, a lua  das horas, na companhia de  uma noite  de  inverno  gaúcho.
A cama  chama   para  me  aconchegar  mas confesso não  sei porque  não  a  procuro, meus  pensamentos correm  para  muitos  lugares, vem  imagens, que passam no  meu  pensamento,  vem momentos  a  cada  volta dos  segundos  do  relógio que  parece  que  me  diz  que  está  na hora  da cama.
Mas  às  vezes  relutamos,  parecendo crianças "eu não  quero  ir pra  cama,  eu  quero  brincar" mas  não  é o  caso hoje, após tantas jornadas  que  meus passos já caminharam.
Então,  eu começo  a  folhar  as páginas  já  escritas do  meu  livro de lembranças que  me  acompanham  nesse  gelado  mês  de julho.
Ah,  lembranças ! Que pipocam   que nem  pingos  da chuva caindo no chão.Mas  eu não  sou  daqueles que  não  olho  as páginas de  que não me fazem  bem, afinal, são  vidas,  vida  vivvida, não  passei  e  nem  estou  passando  em vão  esse  caminho.
Pego minhas  agendas que  as guardo  com  carinho, tem  de tudo, datas, momentos, passagens, lembretes,  frases  ditas  e  recebidas,  em  outras algumas coisas  coladas,  e me  surpreendo que estão  ali ainda.

Teve  um  tempo que  pensei colocar tudo  num  tonel  velho  e  colocar fogo. Parei..pensei, articulei   minhas idéias e disse pra mim  mesmo..."não",  porque tem muita  vida nessas  agendas, emoção, tem  até  lágrimas, ah,  tem meus poemas,  muitos inéditos, que estão  ali guardados,  digo  que  as  vezes  ternho inveja de minhas  agendas.
Mas , não posso  me  desfazer  delas, porque tem muito de mim, não  é  saudosismo,  é vida!
O  rádio informa : " em  SANTA  MARIA,   centro  do RIO  GRANDE  DO  SUL, são 03:45h, 02 graus, temperatura de renguear  cusco" diz  o  locutor da rádio,  dou um  sorriso pra  dentro  de mim, poxa,  é  mais um  inverno na minha  vida.
Sei,  esse  inverno  é  diferente, vem  junto  com  essa  pandemia  que machuca a  todos  nós, nos  faz sofrer, a dor dos  que  foram, nos que nos  deixaram, e os vitimados da pandemia  fatal,letal, que  deixam   os  seus,  de uma  hora  para  a outra.
Mas  a noite,  a madrugada avança, parece que  daqui  a  pouco vou  ser  vencido pelo  sono,  pelos  olhos que não  posso forçar, revirando  páginas,anotações.
Fico imaginando, quem  deve estar  na  madrugada agora, nesse  frio  que  arripia a pele, na minha  mente, vejo, que  há muitos nesse  inverno, uns  famintos  da fome, outros  famintos do aconchego  de um  cobertor. outros  de um calor humano, um  abraço,  um  carinho.
Peço,  de maneira  para  não   ser notado  pelas minhas  agendas, que nosso  DEUS proteja a todos os nossos  irmãos  desvalidos, invisíveis  que  estão  por  ai,  nesses bancos  de praças, embaixo  de  viadutos,  acolherados  uns com  os seus  bichos  de  estimação,  seus  cachorros, gatos, dando  e  recebendo carinho.
Nesse  mundo de  desamor, indiferenças, do egoísmo que toma  conta do ser humano,  ainda bem  que  podemos contar com esses  bichanos  que parecem  compreender  o  que  o ser  humano passa,  nesses  momentos.

Vem, a mim, a lembrança da minha cadelinha  pitoquinha "TOTÓ" ela  tinha  o  pelo meio  laranja  escurinho, era,  sempre  foi, meu  xodó, "eu só quero um  xodó"  a música que  vem  a lembrança cantada pelo  GILBERTO  GIL.
Depois  que ela   morreu  eu    morava   no  RIO DE JANEIRO, baixada fluminense, NILÓPOLIS, ela  tinha  ficado em  SÃO GABRIEL nunca mais quiz  outra  cachorrinha.
É    a hora de guardar rabiscos, escritos, segredos, desejos, meus pedaços deixados, nessas  agendas, porque já o  sono está  me  vencendo,  a cama agora  é o  meu  destino.
Agora, aquecer a pele, o  frio  da alma  nessa madrugada friolenta.
E   o  rádio  continuará na  companhia minha  de  há  muito tempo.

Não  vamos afrouxar   o  garrão, a luta continua.

Um comentário:

ONTEM....

Ontem caminhando pelas ruas altas e baixas da cidade... Meus passos quando pisava o solo, parecia que em mim algo me levava para algum lugar...