Criadora dos mais fortes e elogiados personagens femininos do cinema nacional, a atriz e também diretora Helena Ignês lembra, em entrevista ao 247, da época da ditadura, quando ficou exilada "dentro e fora do Brasil"; "Foi um momento horroroso que as pessoas esqueceram", diz; ela não mede palavras para classificar os que defendem a deposição da presidente Dilma: "São uns miseráveis essas pessoas do golpe... todos! Esses golpistas são uns miseráveis! Essa Câmara... coisa escrota!"; para ela, Michel Temer "é misterioso, tem aquela cara que não diz nada... E ele é traidor, né, querido? Ninguém ama traidor! Ele é um desastre"; Aécio Neves "é outro vexame total! Uma coisa pequena!"; suas opiniões mais escatológicas, porém, ela reserva a um ex-presidente da República: "O Fernando Henrique, a expressão é que ele se cagou! Não tem outra! Se cagou por inteiro"!
6 DE MAIO DE 2016 ÀS 15:32
Por Alex Solnik, do 247 -"Criadora dos mais fortes e elogiados personagens femininos do cinema nacional, tais como Janete Jane ("O Bandido da Luz Vermelha"), Ângela Carne e Osso ("A Mulher de Todos") e Sonia Silk ("Copacabana, mon amour"), Helena Ignês se reinventou e, hoje, além de atriz se tornou diretora.
"Ralé", seu filme em cartaz em São Paulo, reúne dois titãs da cultura brasileira, José Celso Martinez Corrêa e Ney Matogrosso numa narrativa que celebra a liberdade do amor. Nessa entrevista exclusiva ao 247, Helena, cuja família, aristocrática, foi responsável pela construção do Elevador Lacerda, em Salvador e que nos anos 60 atuou em cima de caminhões, levando teatro às Ligas Camponesas de Francisco Julião diz que a ditadura, quando ficou exilada "dentro e fora do Brasil", "foi um momento horroroso que as pessoas esqueceram".
Ela não mede palavras para classificar os que defendem a deposição da presidente Dilma: "São uns miseráveis essas pessoas do golpe... todos! Esses golpistas são uns miseráveis! Essa Câmara... coisa escrota!" Michel Temer "é misterioso, tem aquela cara que não diz nada... E ele é traidor, né, querido? Ninguém ama traidor! Ele é um desastre".
Aécio Neves "é outro vexame total! Uma coisa pequena! Olha, eu tenho nojo... N-O-J-O... nojo!" Mas suas opiniões mais escatológicas ela reserva a um ex-presidente da República: "O Fernando Henrique, a expressão é que ele se cagou! Não tem outra! Se cagou por inteiro"!
Confira a íntegra:
O que teu filme "Ralé" tem a ver com a peça do Máximo Gorki?
"Ralé" vem de uma inspiração direta na "Ralé" do Gorki. Foi a inspiração original para eu armar essa dramaturgia, que seria da anti-ralé. Porque o que eu apresento na minha "Ralé" não é a mesma do Gorki de 1900. Essa ralé hoje é a classe artística. Somos nós que somos, na verdade, uma marginalidade. A arte é completamente marginal.
O tema do teu filme é a liberdade, né?
É por aí...
Nos anos 60 havia mais liberdade do que hoje?
Não. Havia mais liberdade comportamental num grupo específico que são esses que até hoje transgridem e se afirmam. Mas no geral, não. A gente tem que lembrar que foi a Marcha da Família que ajudou a consolidar a ditadura nascente.
E como foi 1964 para você? Onde você estava?
Eu estava lá, participando de tudo diretamente... ontem, inclusive, o Zé Celso falou de quando queimaram a UNE... nós convivíamos bastante...a UNE pegou fogo, aquilo foi uma barra. Eu estava no local, eu trabalhava no CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE. Trabalhei lá de 63 a 66 como atriz de teatro... ao mesmo tempo fazia filmes e tudo, mas tinha esse compromisso com o teatro feito em caminhões... eu viajei pelo Brasil todo... fiz teatro em Liga Camponesa... Francisco Julião... fui lá na Paraíba e tal...foi uma atividade bastante integrada anti-golpe...
Teu filme defende a liberdade do amor, ela existe hoje?
Mas estamos falando de minorias... de minorias excluídas...hoje na crítica do "Estadão" que o Zanini escreveu falou do perigo de se achar superior... imagina! Isso eu até acho muito simpático da parte dele, porque, imagina se eu me acho superior, nem entendo isso como crítica...no momento em que tivesse algo parecido com esse sentimento acabava o filme de amor. Não queremos ser superiores a nada, queremos somente o nosso direito de sermos felizes.
Como você descobriu que o Ney Matogrosso era ator?
Ney me encantou no palco. Nesse período em que eu me encantei com o Ney eu estava procurando um ator para o "Luz nas trevas", que simplesmente não existia. Não tinha um ator... nada parecido. As sugestões eu achava todas péssimas... horrorosas! Achava que o filme ia ficar horrível se eu trouxesse essas personalidades masculinas para o papel do Bandido. Eu ia acabar fazendo um filme de direita! Não havia como errar no protagonista masculino! E eu fiquei muito tempo nisso. Não encontrava, não encontrava, não encontrava. E aí, minhas duas filhas, Sinai e Paloma, juntas, chegaram à mesma conclusão. Interessante, porque a Sinai assistiu esse show e Paloma estava começando a fazer o "Olho nu"... o "Olho nu" começou antes que "Luz nas trevas" e começou bem depois...Então, eu me aproximei do show do Ney e convidei. Realmente, foi um escândalo, porque foi inesperado Ney Matogrosso fazer o Bandido da Luz Vermelha que é um personagem totalmente icônico... todo mundo se sente dono... todo mundo conhece o Bandido da Luz Vermelha...ele é um personagem mítico... é o cangaceiro da cidade.
Quando você fez "O bandido da Luz Vermelha" você tinha intuição que era um filme genial?
Intuição, não, eu sabia que era um filme genial. Conheço o gênio pelo jeito. Enquanto eu fazia o "Luz nas trevas" eu percebi como existia esse mito do Bandido. E o Ney fazer ele, que também era um personagem ligado à contracultura...a ousadia... e também era uma pessoa homossexual...então, acho que foi mesmo revolucionário! Ele combina maravilhosamente bem com o filme.
No "Ralé" Ney tem cenas muito fortes sexualmente falando. Foi difícil convencê-lo a fazer ou ele encarou com naturalidade?
Facílimo! Trabalhar com os meus atores é puro prazer...e facilidade no melhor sentido da palavra. Porque é uma resposta imediata. São maravilhosos esses atores com que eu trabalho.
E o Zé Celso?
Mesma coisa. Eu tenho adoração por ele. Conheço Zé Celso desde sempre. Nesse período mesmo, de 64, nós estávamos juntos. Loucos serão os que não perceberem essa importância cultural do Zé.
Teve alguma participação dele no roteiro ou o roteiro é todo teu?
É todo meu, absolutamente pessoal.
Você escreveu tudo ou foi modificando enquanto filmava?
Pelo amor de Deus! Escrito e reescrito! Fiz seis tratamentos de roteiro para chegar àquela espontaneidade. Parece improviso, mas passou por seis tratamentos.
Os personagens, tanto do Ney, como do Zé Celso se confundem com eles. O Ney canta... o Zé lê um livro de Brecht...Foi proposital?
Não. O personagem do Ney, está claro na narração que ele é um cantor, como diz o namorado dele que canta em festinhas íntimas, é um dândi. Não é um cantor profissional. O Barão canta, mas não é profissional. Não tem nada a ver com Ney Matogrosso.
Você não quis misturar o personagem com a pessoa?
O Inácio (Araújo) deu uma sacada linda hoje. Falou que eu me interesso mais pelas pessoas do Ney, do Zé Celso... são elas que me atraem. Então, através disso eu crio esses personagens.
Você cita o "Copacabana, mon amour" no "Ralé". É o teu filme preferido?
Eu tenho adoração pelo filme! Eu vi esse "Copacabana, mon amour" em 2006, em Turim, com as pessoas enlouquecidas pelo filme! Produtores de porte... chineses de Hollywood...me perguntavam "que imagens são essas"?! Completamente baratinados com o filme. "Copacabana, mon amour" é um filme para o futuro! É o mais anárquico dos filmes, o mais profundamente anárquico! É um anarquismo de base! Que texto aquele que eu digo no filme! Que texto a "Sonia Silk" fala! "Precisamos destruir pela violência esse planetazinho vagabundo". Quer dizer, esse estado de revolta alucinante! E, no entanto, é um filme pacifista. Eu sou pacifista. Mas aquele momento de destruir o planeta existiu. Existiu. A ditadura militar não foi fácil.
O que aconteceu com você na ditadura?
Eles expulsaram a gente do Brasil! Fomos morar fora, exilados. E depois ficamos exilados dentro do Brasil. Não dava nem para tirar uma carteira de identidade, uma carteira de trabalho. Fomos vigiados o tempo todo, o tempo inteiro, o tempo inteiro. Fomos vigiados e sabotados, uma coisa horrorosa!
"Sonia Silk" foi teu personagem mais forte?
Não. "A Mulher de todos"... uma atriz que ganha um personagem daqueles tem que ficar cinquenta anos depois elogiando, né.
"Ângela Carne e Osso"...
Não é qualquer uma.
E como é que foi a filmagem de "A mulher de todos"?
Foi adorável. Foi uma festa no inferno. Porque o Brasil era um inferno. Era. Mas a gente tinha que se livrar das chamas. E aqueles corpos que apareciam na praia... aquelas pessoas mortas...que se suicidaram... coisa escrota! Foi um momento horroroso! As pessoas esqueceram! São uns miseráveis essas pessoas do golpe... todos! Esses golpistas são uns miseráveis! Essa Câmara... coisa escrota!
E esse Temer? Como você descreve esse Temer?
Não precisa descrever, o Brasil inteiro descreve aquilo, basta tirar uma fotografia! Ele é conservadíssimo, ele é da minha idade.
Você vê esse sujeito na presidência do Brasil?
Eu acho que nós não vamos deixar isso acontecer, não. É impossível! O cara não é popular, ninguém gosta dele! Coitado... ele é um mordomo de filme de terror. Mas por que? Porque ele é misterioso, tem aquela cara que não diz nada, então é realmente um filme de terror que está se passando! E ele é traidor, né, querido? Ninguém ama traidor! Ele é um desastre. E o Fernando Henrique? Que escrotidão! Onde ele se meteu! O Fernando Henrique, a expressão é que ele se cagou! Não tem outra! Se cagou por inteiro! Ele não precisava! Ele não precisava desse vexame! Quando ele disse que o Lula enterrou a história dele, ele tá dizendo também que ele também tá enterrando a história dele! Em fazer essas declarações escrotas!
O PSDB todo, aliás... quem te viu e quem te vê!
Não dá pra sair xingando todo mundo! Tem um maluco feito o Serra que é o melhor deles! Pra mim o Serra é ainda o que não tomou vaia, porque foi sozinho e não tomou vaia...ele não quis se meter com os escroques, nem com Temer, nem com o outro lá...o Aécio, que é outro vexame total! O Aécio criou o movimento do impeachment no momento em que perdeu. Uma coisa pequena! Olha, eu tenho nojo... N-O-J-O... nojo! É o que eu tenho!
Mas o Serra quer se ministro do Temer!
É o PSDB, né, querido? Não tem jeito! Mas eu quis fazer uma ressalva. Talvez pelo passado dele, de menino estudante...ele era da UNE... muito próximo das coisas da minha vida, de certa forma... ele estava lá também na UNE...
Como você descreveria esse momento político?
É um caos! Eu, e qualquer brasileiro ou brasileira não deve estar sabendo o que vai acontecer. É exatamente o final do "Bandido da Luz Vermelha". Extrema atualidade do filme do Rogério. É como termina o filme. E ninguém sabe o que vai acontecer. Se repete esse momento político no Brasil, indeterminadamente, com espaços às vezes maiores, mas sempre tem esse caos, essa coisa que volta. É inacreditável!
Você acha que é uma volta a 64?
Não. Absolutamente. Não tem nada a ver. É um outro momento. Não andamos para trás. Não somos caranguejos. Apesar de vários setores da sociedade caranguejarem na verdade, nós não somos caranguejos. A história vai para a frente. Agora, ela é redonda, ela vai e volta, mas é outro momento. 64 era um momento militar. Não é isso que acontece agora. É um outro tipo de ditadura. E que existe na democracia. A gente viu o que aconteceu naquele dia 17.
Às vezes eu vejo pontos de contato com 64. Criou-se um clima de que João Goulart tinha jogado o país no caos... era um desgoverno...tinha que tirá-lo de qualquer maneira...e quem estava tirando eram democratas... Castello Branco assumiu em trajes civis... era um "democrata". Assim como Temer está formando um governo enquanto ainda existe um outro, em 64 foi declarada vaga a cadeira do presidente enquanto ele ainda estava no país. A diferença é que hoje não tem tanque na rua.
Isso é fundamental! O exército não está na rua. É fundamental a diferença. Então, é um outro tipo de retrocesso... a religiosidade, né... é uma coisa que está destruindo o pensamento nacional, esses pensamentos religiosos. Fundamentalistas, na verdade e todos ligados à corrupção... é uma coisa pesada pra caramba... é atrasado... esse escândalo contra a lei do aborto...que é isso? Que hipocrisia é essa? É um momento de extrema hipocrisia.
E muito perigoso também.
E sem líder nenhum.
O líder do impeachment é um pato amarelo. É trágico, não é?
É trágico. É vazio. É horroroso. Mostrou o que é a nação. É um vexame! Nós estamos atrasadíssimos! A verdade é essa. E cada um está pagando o seu karma. Porque a educação ficou para trás nisso tudo. O que houve foi muita obra... muita construção... estádio, né. Em grandíssima quantidade. Em relação, inclusive, a obras sociais.
E essa desconstrução do governo Dilma também é terrível, né? É um impeachment totalmente fraudulento. Não sei se você tem visto. É até difícil acompanhar, pois estão fazendo de forma tão atabalhoada, com sessões que avançam madrugada adentro... não dá nem para acompanhar.
Eu tenho acompanhado. Eu dedico pelo menos uma hora por dia para essa história toda.
As acusações contra ela são totalmente kafkianas, não?
São! São absolutamente ridículas. Essa coisa do Reali que foi aceita pelo Cunha é uma verdadeira vergonha. Mas houve um descalabro mesmo! Houve um erro profundo! A pobre da Dilma, mesmo que quisesse acertar ela estava amarrada, tinha toda uma história ali que estava acontecendo.
Ela foi impedida de governar.
Foi proibida! Quando não pintou de novo a propina a que eles estavam acostumados não passou uma lei dela...
Ela é honesta no meio dos bandidos, então tem que cair fora.
Completamente honesta! O que Mangabeira Unger falou desde o começo. Que não tinha uma presidente tão austera desde o começo da República. Mangabeira Unger, olha só! Um cara que saiu do PT. E está no PDT. É a única pessoa... ele e o Ciro Gomes. São essas pessoas que podem dar uma renovada nessa história. É trágico, mas está acontecendo. E o que você sabe mais do Cunha?
O mandato dele foi suspenso e ele foi afastado da presidência da Câmara.
Muito bom!
E agora deverá ser julgado no Conselho de Ética e cassado.
É muito engraçado.
Mudou tudo de ontem para hoje. Até o impeachment poderá ser questionado agora.
Isso seria formidável, se houvesse essa possibilidade.
É impressionante como o povo saiu na rua contra a corrupção e está colocando no poder os corruptos.
Mas não estão entendendo, né...
Até agora não entenderam...
Não estão entendendo, né... estão mais ou menos agora... vamos ver o que vai acontecer. É um perigo essa história das ruas. Mas é isso a democracia.
Em parte, é, só que as maiorias também apoiaram o nazismo.
É claro. É lógico. Não há a menor dúvida. Também foi a maioria que apoiou o golpe, nesse sentido. São as famílias brasileiras.
Você lembra? Teve a campanha "dê ouro para o bem do Brasil"... organizada por um dos maiores corruptos da nossa história... Adhemar de Barros...
Sim, foram para a rua... Marcha da Família...pela liberdade... e vieram as torturas das mais escrotas... torturas inacreditáveis, do mesmo nível dos nazistas...foi tenebroso...
E foi um legado do Getúlio, né? Ele que introduziu a tortura no Brasil, com Filinto Muller...
Puta que pariu! Você veja, né. Ele ainda teve a dignidade dar um tiro no peito por não aguentar a vergonha do que seria o fim dele.
Mas esse foi o grande vilão do Brasil... o maior vilão que o Brasil já teve...
Foi mesmo, é? Filinto Muller, pra Rogério, era, assim, a figura do que se chama demônio. O símbolo do caos. E o signo do caos também. Isso que você me disse agora foi forte. Manda notícias pra mim pelo e-mail. Eu leio tudo.
Você nasceu numa família rica da Bahia?
Não rica; era uma família de educação aristocrática. Mas já empobrecida. Porque essa família era aristocrata, realmente aristocrata, dos que fizeram o Elevador Lacerda, né, dinheiros altamente avançados, formados fora do Brasil...meus tios-avôs foram os dois engenheiros que pela primeira vez furaram a rocha numa tal magnitude que deu vez ao Elevador Lacerda, que uniu a Cidade Baixa à Cidade Alta. Entre outros trabalhos que eles fizeram em Salvador. Então, essa família era também dona de fábricas de tecido. Usando cânhamo. E elas foram exatamente empobrecidas com o começo da imposição do nylon. Quando eu nasci meu pai já era pobre. O que ele queria ser ele já não poderia mais ser porque ele se empregou num banco, o London Bank. Que estava sendo fundado em Salvador. Ele foi bancário a vida toda, se aposentou jovem. Era uma pessoa muito interessante.
Qual é o teu sobrenome?
É enorme. Inclusive ontem, assinando para o Arte 1 um direito de imagem...eles ficaram pasmos... Helena Ignês Pinto (que é da parte da minha mãe) de Melo e Silva. E meu pai é Lacerda de Melo e Silva.
O cânhamo, então, já foi livre no Brasil.
O uso do algodão era diretamente do cânhamo. E eu me lembro também, eu muito jovem na Bahia, na época em que eu era Glamour Girl, muito jovem, 17 para 18 anos, relançando o cânhamo. Porque essas fábricas que meus tios-avôs tinham, que já foram passados para outros, mas eram ligados a eles, estavam acabando os estoques e então eu usava aqueles tecidos rústicos, que foram moda antes, quando eu estava nascendo e revivi tudo isso. E quem fazia isso também, depois de mim, influenciada por mim, foi Maria Bethânia, que nesse período me procurava, era mais menina do que eu, sabe, eu tinha 18 para 19 e ela 14 para 15, chegando em Salvador. Isso está no livro do Caetano. Essa coisa do cânhamo é muito interessante e está completamente ligada à minha vida. Mas as histórias que eu tenho pra contar são muito grandes.
Como é que você entrou na vida artística? Foi com Glauber?
Foi junto, Glauber era da minha idade também. E a gente começou a namorar, os dois na Faculdade de Direito, ele também era ouvinte da Faculdade de Teatro e a gente começou com 18 anos, com 19, era uma formação extremamente próxima.
E ele já tinha essa marca do gênio quando era jovem?
Ah, tinha. Quando eu vi Glauber falei: é um gênio! Fiquei apaixonada por ele por ele ser um gênio. Um gênio. Total.
O que te impressionou nele?
Isso, a graciosidade do espírito.
Ele não parava de falar, é isso?
Não... ele tinha um brilho extraordinário, não é "não parava de falar"... ria muito...
Sim, mas ele falava muito. Sempre foi prolixo.
Falava muito. Era falante. Tinha essa coisa do artista popular baiano, sabe? Vinha do teatro também. Ele tinha um pouco desse sertanejo... um pouco de Castro Alves...tinha o mesmo espírito de Castro Alves... Glauber era uma gracinha...
O Rogério Sganzerla já era mais contido, não? Ou é impressão?
É, não tem nada a ver. Cada um é cada um. Ele era outra coisa. Rogério vem de uma formação italiana, né... do sertão do Sul do Brasil...Pinheiral... uma realidade diferente da de Glauber, que era outra coisa...
Por que você não atuou nos grandes filmes do Glauber?
Porque nós éramos de grupos diferentes. Desde o começou houve um rompimento artístico, formal...o afetivo existia... mas era estranho, o afetivo limitava, às vezes se opunha a este outro grupo...
Esse outro grupo era do Rogério?
Esse outro grupo chama-se Rogério. Ele fazia uma oposição... é histórico, não sou eu quem diz...
Quer dizer que Glauber e Rogério não se davam?
Não, não é por aí... você leu o que Rogério escreveu em "Necrológio de um gênio"?
Não.
Então leia, por favor. Senão não posso responder. Porque havia uma relação muito profunda também.
Qual era a divergência entre eles?
Deixa pra lá, querido... é muita coisa para uma manhã só.."
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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