O envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida trouxeram novos arranjos sociais e algumas conquistas para a geração que aí está, oriunda da década de 60, afinal dos anos 50 e, ainda, muitos remanescentes dos 40. Temos um percentual significativo de idosos a procurar um lugar " oficial", onde a solidão emprestada pela saída dos filhos , o desaparecimento de antigos amigos e os naturais impedimentos da idade lhes tragam algum sentido para continuar a vida de modo prazeroso, motivacional e de acordo com a faixa etária. Uma vez aposentados, grande parte se recente da falta de convívio social, quase sempre ajustado no ambiente de trabalho por interesses comuns.
Muita gente, solitária por opção, ou na falta do parceiro ou da prole,cristaliza os conceitos e os hábitos adquiridos, não mais se adaptando ao ritmo frenético da realidade lá fora.
Resta o quê, então ? O cultivo de males, dos mais variados possíveis,objeto de extensos relatos e queixas até mesmo em encontros fortuitos com desconhecidos , como é comum encontrarmos com frequência, quase sempre dirigidos ao vendedor da da farmácia,da loja, do supermercado.
Não é preciso destacar que o espaço midiático tem se preocupado com a diversidade. Por enquanto, ganham o round as temáticas do racismo e da opção sexual. Os cabeças brancas, ou seniors, componentes inevitáveis e compulsórios dessa multivariacao da existência, para a qual todos os demais caminham, independente de cor de ou de raça, jazem no esquecimento. Os bens de insumo são jovens . O ensino é para moços. As casas de diversão e espetáculo, o entretenimento,o lazer planejado,apresentam-se para um público tapado de músculos, colágeno e conteúdo interno completamente oposto a bagagem dos que carregam o peso dos anos.
Tais constatações nos levam a uma idéia de que ,num sistema onde todos visam a lucros e dividendos , investir nos cidadãos que cruzam o derradeiro trajeto da visse é coisa de caridade. Melhor entregar para as associações de aposentados, os serviços de assistência, as iniciativas individuais de guetos por onde as afinidades pessoais, como viagens e turismo, conseguem manter nichos de convivência. Entretanto, sabemos que não são suficientes.
O idos, considerado assim após os 60, tem dificuldades nas iniciativas. Para muitos,falta o suporte financeiro. Para outros tantos, o emocional. O sentimento de solidão e abandono,por si só, inviabiliza a vontade de levantar do sofá e pendurar os chinelos. Talvez seja hora de os governos tomarem para si a tarefa de emprestar um olhar mais empático para esse segmento. Afinal de contas, é desejo de todos atravessar o ocaso dos anos de modo ativo, independente e pleno.
O ser humano nasce só. Depende de cuidados até atingir a idade da socialização, indo para a escola, onde forma seus primeiros grupos. Ali estabelece seus conceitos relacionais e dá a partida para o resto. A chegada da velhice mumifica os aprendizados.
Para muitos, o diploma ficou perdido em uma caixa de recordações ou num quadro de parede. No tempo, virou um papel inútil.
Os esquecidos,cerca de 38 milhões no Brasil, precisam largar as pantufas, pegar a mochila e irem para o colégio. Falta alguém que pense seriamente nisso e não se trata de piada. Duvidar dos velhos , isso sim, é preconceito.
Valderez Oliveira, professora estadual inativa e ex- servidora do Judiciário
Diário de Santa Maria, 28/03/22
Não vamos afrouxar o garrão, a luta continua.